Dark

Desvende os Mistérios de Dark: Uma Jornada Atemporal na Netflix.
Autor: RBR BARRETO
A série Dark foi, e continua sendo, uma das produções mais icônicas da Netflix. Para apreciá-la em toda a sua profundidade, é fundamental entender alguns conceitos que envolvem viagens no tempo, passagens multidimensionais, símbolos antigos e sociedades secretas. Lançada em 2017, esta série de origem alemã apresenta uma trama complexa e atemporal, capaz de impactar espectadores de diferentes gerações. Sua direção cuidadosa, acompanhada de uma trilha sonora excepcional e vibrante, conseguiu equilibrar suspense, mistério e emoção de forma a conquistar um público fiel, exigente e altamente engajado. Esse sucesso garantiu a realização de três temporadas, sendo a última marcada para 27 de junho, o “Dia do Apocalipse”.

Tema e premissas – São os eventos que criam os ciclos ou, os ciclos conduzem os eventos?
A temática central de “Dark” explora a possibilidade de viagens no tempo, aproveitando “lapsos” na linha temporal que surgem a cada 33 anos. Esses “lapsos” funcionam como uma compensação, um tempo fora do tempo, que não só corrige o ciclo, mas também dá origem a um nó energético, um “buraco de minhoca” que conecta vidas e circunstâncias equivalentes em três épocas distintas. O início da temporada remete ao ciclo de 2019, levando-nos a conhecer histórias e personagens em 1986 e 1953, apresentando assim o primeiro ciclo aos espectadores. A segunda temporada recupera eventos iniciais ambientados em 1921, avança ao longo da linha do tempo dos ciclos anteriores para 2020, 1987 e 1954, respectivamente, e introduz uma perspectiva de futuro pós-apocalíptico em 2053. Assim, começamos a perceber as intricadas conexões entre os ciclos, onde “tudo está conectado”.
A premissa das viagens no tempo é utilizada para especular sobre a possibilidade de agir no passado e no presente, alterando eventos que podem impactar o futuro e, assim, interromper a sequência de ciclos, libertar as conexões e evitar o “Apocalipse”. A expressão “tudo está conectado” revela uma outra premissa que pode surpreender adiante: mesmo que fatos e circunstâncias possam ser modificados, a rede de conexões se reconstituirá de uma nova maneira, mantendo os ciclos, mesmo que isso ocorra em mundos ou dimensões diferentes. Ao final da segunda temporada, “Dark” abre a possibilidade de explorar não apenas a linha do tempo, mas também realidades paralelas. Não se trata apenas de perguntar “em que tempo?”, mas sim “em que mundo?”?

Segredos de Widen: Trilhas Sombras para Redenção e Mistério.
A fictícia cidade de Widen, situada nos arredores de Berlim, proporciona à série um ambiente contido, silencioso e com uma aura sombria, envolto por florestas, pontes e cavernas. Nesses locais, existem nichos esquecidos, ocasionalmente visitados por grupos que sonham em negociar suas realidades, buscando caminhos alternativos para suas vidas tranquilas, desfocadas e repletas de segredos. Widen se desenvolve em torno de uma Usina Nuclear, estabelecida na década de 1950. Essa usina é responsável pelo progresso econômico local e se torna o epicentro do “Apocalipse”. Seu território está interligado às enigmáticas “cavernas de Widen”, que abrigam um “buraco de minhoca” e onde ocorrem os desaparecimentos de personagens centrais, fundamentais para o desenrolar da trama.
Mistérios das Cavernas Alargadas: Um Mundo Oculto Revelado.
As “Cavernas de Widen” formam um intrincado sistema de cavernas interconectadas que se estendem sob a floresta, abrangendo as proximidades da Usina. Este local é um dos refúgios frequentados predominantemente por adolescentes e traficantes, que o utilizam como ponto de troca e esconderijo para drogas ilícitas. A maior parte dos moradores ignora a existência dessas passagens. Na primeira temporada, ficamos sabendo que uma das suas extensões serve como abrigo para o lixo radioativo proveniente da usina. Ademais, dentro desse mesmo sistema cavernoso, há uma passagem que conecta três pesadas portas esculpidas com o símbolo da Triquetra e a inscrição “Sic Mundus Creatus Est”.

Desvendando o Tempo: A Busca da Humanidade Contra os Ciclos Eternos.
“Sic Mundus Creatus Est” – “Assim o Mundo foi Criado” é o princípio filosófico que norteia o intricado paradoxo que impulsiona a série. Essa expressão está simbolicamente ligada à figura do Ouroboros, a serpente que se devora, revelando que início e fim se entrelaçam, gerando um ao outro e traçando o destino da humanidade em um ciclo eterno. A questão que a série levanta parece ser: seria este um modelo definitivo, posto em movimento desde os primórdios dos tempos, do qual não há escape, ou a ação humana, na busca por liberdade, pode afetar o tempo, revisitar o passado, modificar eventos e, assim, reescrever a história?
É na tentativa de desvendar esse paradoxo que os “viajantes do tempo” estabelecem na série uma ordem secreta denominada “Sic Mundus Creatus Est“, cujos objetivos frequentemente colidem entre o que é expresso como um discurso de libertação da humanidade e os desejos ocultos que cada “viajante” guarda em seu íntimo. Além do Ouroboros, a série também explora o símbolo da triqueta, de origem pagã, associando-o à sociedade secreta dos viajantes. Ela representa um nó triplo entre três períodos, num intervalo de 33 anos, onde os eventos se repetem, criando a correspondência necessária para que o ciclo se renove de maneira idêntica. A triqueta, como emblema do grupo, pode ilustrar a consciência de que estão aprisionados em uma espécie de nó temporal, do qual não conseguem se desvencilhar.

Desvendando os Ciclos de Dark: Ligando Passado, Presente e Futuro.
Em Dark, é fundamental compreender os eventos que impulsionam a narrativa da série. Esses eventos estão centrados no desaparecimento e assassinato de jovens, que acontecem de forma semelhante a cada 33 anos. Em 2019, desaparecem Erik Obendorf, Mikkel Nielsen e Yasin Friese; enquanto isso, em 1953, na região onde começa a construção da Usina, são encontrados os corpos de dois jovens vestindo roupas “futuristas”. Bernd Doppler, o diretor da Usina na época, opta por não interromper a cerimônia de inauguração e ignora essa descoberta. Já em 1986, a Usina opera a todo vapor, mas vive à sombra do acidente de Chernobyl. O receio de “chuva ácida” e os potenciais perigos dos resíduos radioativos permeiam o ambiente. Cláudia Tiedemann assume o cargo de Bernd Doppler, tornando-se a primeira mulher a ocupar essa posição. Helge, filho de Doppler, é segurança da usina no momento do desaparecimento de Mad Nielsen, tio de Mikkel. Um incidente que perdurará até 2019 sem solução.
“Tudo está conectado”
“Tudo está interligado.” “O fim é o mesmo que o início.” Essas duas frases podem ser vistas como resumos do que presenciamos em Dark. As conexões não se dão apenas por meio de eventos recorrentes, mas também através de personagens e famílias cujos papéis são fundamentais para que os ciclos se completem e reiniciem. O “apocalipse” representa o evento culminante, resultante do surgimento da “partícula de Deus”, em decorrência da explosão aleatória dos resíduos radioativos acumulados durante a operação da Usina. É esse evento que projeta Widen em um futuro sombrio e repleto de luto, mas que permanece conectado aos outros ciclos. A “partícula de Deus” é a essência primordial para as viagens no tempo fora do nó temporal criado na caverna. Ela pode ser a chave para um novo recomeço.

O Apocalipse Final: Teorias sobre Criação, Ciclos e Novos Começos.
Diversas teorias emergiram sobre o destino de Dark e de seus personagens centrais. Algumas ganharam destaque por se fundamentarem no simbolismo judaico-cristão, que é habilmente explorado ao longo da narrativa. “Sic Mundus Creatus Est” evoca a própria essência da criação do mundo e sugere associações com figuras bíblicas que podemos vincular a determinados personagens: Adam, Jonas, Hanah, Mikkel ou Michael… Considerando tudo isso, o que podemos esperar? A terceira e última temporada pode ter decepcionado alguns, mas também provocou novas expectativas e teorias. Fomos imersos em uma realidade paralela, onde os personagens foram revertidos. No lugar de “Adam”, parece surgir uma “Eva”. Outras mãos e mentes moldam as mesmas tramas, crimes e fragilidades sob a justificativa de “quebrar” o ciclo. Além do nó temporal, fomos confrontados com um “nó dimensional”? E quanto ao “apocalipse”, o que sobrou? A promessa do “eterno retorno”, mantendo o mesmo ciclo ou o “paraíso” de um novo tempo, onde tudo será diferente?.
Nota do BLOG: Esse artigo foi publicado originalmente no antigo Site Clicandoporai.com. A versão para este BLOG foi revista e atualizada pela autora.
Sobre a autora:
Renata Biscaia Raposo Barreto - RBR BARRETO - é editora independente e escritora. Possui doutorado em Educação e é graduada em Ciências Sociais. Seus ensaios e produções literárias envolvem história, artes, estudos culturais, desenvolvimento humano e tecnológico, subjetividade e mito-poética. Suas histórias exploram temas como o imaginário, a jornada do herói, a criação de mundos, a feminilidade e as diversas formas de construção simbólica da realidade.
Instagram: @rbrbarreto.escritora.
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